Abuso de Drogas e Álcool. Parte 3

01/01/2010 13:34

 

Abuso de Alcool e Drogas - Parte 3

Por Rita de Cassia da Silva

 

7 - Outras Drogas

 

Barbitúricos

 

Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos.

Nos primeiros anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição.

Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena, Veramon, Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas.

O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia.

Efeitos físicos e psíquicos

 

São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro.

 

As pessoas podem ficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento.

 

A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas.

 

Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcoólicas em excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir automóveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a pressão sangüínea são afetados.

 

Efeitos tóxicos

Os barbitúricos são drogas perigosas, pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz efeitos terapêuticos desejáveis.

Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.

Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas.

A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer.

Nomes comerciais:

Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa, exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia em cirurgia).

Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital).

Nomes populares:

soníferos, bola, bolinha.

 

Anfetaminas

 

Definição: As anfetaminas são drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, isto é, fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais “acesas”, “ligadas” com “menos sono”, “elétricas”, etc. É chamada de rebite principalmente entre os motoristas que precisam dirigir durante várias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos pré-determinados. Também é conhecida como bolinha por estudantes que passam noites inteiras estudando, ou por pessoas que costumam fazer regimes de emagrecimento sem o acompanhamento médico.

Nos USA a metanfetamina (uma anfetamina) tem sido muito consumida fumada em cachimbos, recebendo o nome de “ICE” C gelo).

Outra anfetamina, metilenodióximetanfetamina (MDMA), também conhecida pelo nome de “Ecstasy”, tem sido uma das drogas com maior aceitação pela juventude inglesa e agora, também, com um consumo crescente nos USA.

As anfetaminas são drogas sintéticas, fabricadas em laboratório. Não são, portanto, produtos naturais. Existem várias drogas sintéticas que pertencem ao grupo das anfetaminas e como cada uma delas pode ser comercializada sob a forma de remédio, por vários laboratórios e com diferentes nomes de fantasia, temos um grande número destes medicamentos, conforme mostra a tabela.

 

 

Tabela – Nomes comerciais de alguns medicamentos à base de drogas do tipo anfetamina, vendidos no Brasil. Dados obtidos do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas – DEF – ano 1996/1997.

Droga do tipo Anfetamina

Produtos (remédios comerciais) vendidos nas farmácias

Dietilpropiona ou Anfepramona

Dualid S; Hipofagin S; Inibex S; Moderine

Fenproporex

Desobesi-M; Lipomax AP; Inobesin

Mazindol

Dasten; Fagolipo; Absten-Plus; Diazinil; Dobesix

Metanfetamina

Pervitin*

Metilfenidato

Ritalina

·         Retirado do mercado brasileiro, mas encontrado no Brasil graças à importação ilegal de outros países sul-americanos. Nos USA cada vez mais usado sob o nome de ICE.

 

Efeitos no cérebro

 

As anfetaminas agem de uma maneira ampla afetando vários comportamentos do ser humano. A pessoa sob sua ação tem insônia (isto é, fica com menos sono) inapetência (ou seja, perde o apetite), sente-se cheia de energia e fala mais rápido ficando “ligada”. Assim, o motorista que toma o “rebite” para não dormir, o estudante que ingere “bolinha” para varar a noite estudando, um gordinho que as engole regularmente para emagrecer ou ainda uma pessoa que se injeta com uma ampola de Pervitin ou com comprimidos dissolvidos em água para ficar “ligadão” ou ter um “baque” estão na realidade tomando drogas anfetamínicas.

A pessoa que toma anfetaminas é capaz de executar uma atividade qualquer por mais tempo, sentindo menos cansaço. Este só aparece horas mais tarde quando a droga já se foi do organismo; se nova dose é tomada as energias voltam embora com menos intensidade. De qualquer maneira as anfetaminas fazem com que um organismo reaja acima de suas capacidades exercendo esforços excessivos, o que logicamente é prejudicial para a saúde. E o pior é que a pessoa ao parar de tomar sente uma grande falta de energia (astenia) ficando bastante deprimida, o que também é prejudicial, pois não consegue nem realizar as tarefas que normalmente fazia antes do uso dessas drogas.

 

Efeitos no resto do corpo

 

As anfetaminas não exercem somente efeitos no cérebro. Assim, agem na pupila dos nossos olhos produzindo uma dilatação (o que em medicina se chama midríase); este efeito é prejudicial para os motoristas, pois à noite ficam mais ofuscados pelos faróis dos carros em direção contrária. Elas também causam um aumento do número de batimentos do coração (o que se chama taquicardia) e um aumento da pressão sanguínea. Aqui também pode haver sérios prejuízos à saúde das pessoas que já têm problemas cardíacos ou de pressão, que façam uso prolongado dessas drogas sem o acompanhamento médico, ou ainda que se utilizarem de doses excessivas.

 

Efeitos tóxicos

 

Se uma pessoa exagera na dose (toma vários comprimidos de uma só vez) todos os efeitos acima descritos ficam mais acentuados e podem começar a aparecer comportamentos diferentes do normal: ela fica mais agressiva, irritadiça, começa a suspeitar de que outros estão tramando contra ela: é o chamado delírio persecutório. Dependendo do excesso da dose e da sensibilidade da pessoa pode aparecer um verdadeiro estado de paranóia e até alucinações. É a psicose anfetamínica. Os sinais físicos ficam também muito evidentes: midríase acentuada, pele pálida (devido à contração dos vasos sanguíneos) e taquicardia.

Essas intoxicações são graves e a pessoa geralmente precisa ser internada até a desintoxicação completa. Às vezes durante a intoxicação a temperatura aumenta muito e isto é bastante perigoso, pois pode levar a convulsões.

Finalmente trabalhos recentes em animais de laboratório mostram que o uso continuado de anfetaminas pode levar à degeneração de determinadas células do cérebro. Este achado indica a possibilidade de o uso crônico de anfetaminas produzir lesões irreversíveis em pessoas que abusam destas drogas.

 

Aspectos Gerais

 

Quando uma anfetamina é continuamente tomada por uma pessoa, esta começa a perceber com o tempo que a droga faz a cada dia menos efeito; assim, para obter o que deseja, precisa ir tomando a cada dia doses maiores. Há até casos que de 1-2 comprimidos a pessoa passou a tomar até 40-60 comprimidos diariamente. Este é o fenômeno de tolerância, ou seja, o organismo acaba por se acostumar ou ficar tolerante à droga.

Discute-se até hoje se uma pessoa que vinha tomando anfetamina há tempos e pára de tomar, apresentaria sinais desta interrupção da droga, ou seja, se teria um Síndrome de abstinência. Ao que se sabe algumas pessoas podem ficar nestas condições em um estado de grande depressão, difícil de ser suportada; entretanto, isto não é uma regra geral, isto é, não aconteceria com todas as pessoas.

 

 
 
Informações sobre consumo

 

O consumo destas drogas no Brasil chega a ser alarmante, tanto que até a Organização das Nações Unidas vem alertando o Governo brasileiro a respeito. Por exemplo, entre estudantes brasileiros do 1º e 2º graus das 10 maiores capitais do país, 4,4% revelaram já ter experimentado pelo menos uma vez na vida uma droga tipo anfetamina. O uso freqüente (6 ou mais vezes no mês) foi relatado por 0,7% dos estudantes. Este uso foi mais comum entre as meninas.

Outro dado preocupante diz respeito ao total consumido no Brasil: em 1995 atingiu mais de 20 toneladas, o que significa milhões de doses.

 

Metanfetamina

As metanfetaminas são substâncias relacionadas quimicamente com as anfetaminas e é um potente estimulante que afeta dramaticamente o sistema nervoso central. A droga é facilmente sintetizada em laboratórios clandestinos, sendo – conjuntamente com o ecstasy – uma das mais populares drogas sintéticas. As metanfetaminas são chamadas comumente de ice, cristal, speed e meth, mesmo no Brasil.

A metanfetamina (MA) é uma droga estimulante do sistema nervoso central (SNC), muito potente e altamente viciante, cujos efeitos se manifestam a nível central e periférico. A MA tem-se vulgarizado como droga de abuso devido aos seus efeitos agradáveis intensos tais como a euforia, aumento do estado de alerta, da auto-estima, do apetite sexual, da percepção das sensações e pela intensificação de emoções. Por outro lado, diminui o apetite, a fadiga e a necessidade de dormir. Existem algumas indicações terapêuticas para a MA, nomeadamente narcolepsia, déficit de atenção hiperativa em crianças, obesidade mórbida e descongestionante nasal (l -metanfetamina). Contudo, esta droga manifesta um grande potencial de dependência e a sua utilização crônica pode conduzir ao aparecimento de comportamentos psicóticos e violentos, em conseqüência dos danos que pode causar a nível do SNC.

 

Mecanismo de Ação

 

A MA exerce seus efeitos ao aumentar agudamente as quantidades de dopamina, noradrenalina e serotonina na fenda sináptica, ampliando assim a neurotransmissão monoaminérgica. O aumento das monoaminas na fenda sináptica dá-se por vários mecanismos, entre os quais a inibição do armazenamento desses neurotransmissores nas vesículas dos terminais neuronais; bloqueio da recaptação das monoaminas por ligação às proteínas transportadoras; diminuição da expressão de transportadores de dopamina na superfície celular; inibição da MAO, levando ao aumento do tempo de vida das monoaminas e através do aumento da atividade e expressão da tirosina hidroxilase, enzima responsável pela síntese se dopamina.

 

Farmacocinética

 

A MA pode ser administrada por via oral, injetável, inalada, fumada ou através das mucosas (anal e vaginal). Quando fumada o efeito é praticamente imediato, provocando um prazer intenso (“flash”), que dura apenas alguns minutos; a administração pela via oral ou inalatória provoca euforia mais prolongada, mas não tão intensa como o “flash”.

 

Toxicidade

 

Apesar dos efeitos agradáveis que pode fornecer, a MA produz tolerância; isto é, o prazer que proporciona desaparece mesmo antes dos seus níveis plasmáticos diminuírem significativamente. Deste modo apresenta um elevado risco de desenvolver toxicidade, na medida em que os utilizadores tentam manter os seus efeitos através de utilizações repetidas, em curtos espaços de tempo. Os principais mecanismos de toxidade estão descritos e podem traduzir-se em toxicidade aguda (imediata, após uma única utilização) ou crônica (decorrente do uso continuado, manifesta-se tardiamente). As reações adversas mais freqüentes incluem arritmias cardíacas, insônia, irritabilidade e agitação nervosa. De forma menos usual pode-se observar dor abdominal, náuseas, vômitos, diarréia, anorexia, perda de peso, obstipação, diminuição da função sexual, alterações na libido, disfunção eréctil, fraqueza, cefaléias, hiper-hidrose, taquicardia, visão turva, tonturas, infecções no trato urinário, vômitos e xerostomia. Raramente também se observa um estado mental alterado, enfarte do miocárdio, dermatite alérgica, rash cutâneo, ansiedade, cardiomiopatia, acidente cerebrovascular, dor no peito, depressão, febre, hipertensão, alterações de humor e psicose. Na gravidez, a utilização de MA pode ser fatal para a mãe e resultar em aborto espontâneo ou malformações para o feto.

 

Genética e abuso de metanfetamina

 

Há anos que estudos que evidenciam a existência de variantes de genes funcionais herdados, que predispõem os indivíduos a adquirirem e manterem o uso de drogas. No que diz respeito à metanfetamina, vários estudos têm reportado associações significativas entre diferentes genes e o uso de MA ou o desenvolvimento de psicoses induzidas por esta droga.

Ecstasy

Chamada droga de recreio, o Ecstasy é uma droga de síntese pertencente à família das fenilaminas. As drogas de síntese são derivados anfetamínicos com uma composição química semelhante à da mescalina (alucinógeno). Desta forma, o Ecsatsy tem ação alucinógena, psicodélica e estimulante.

É, geralmente, consumido por via oral, embora possa também ser injetado ou inalado. Surge em forma de: pastilhas, comprimidos, barras, cápsulas ou pó. Pode apresentar diversos aspectos, tamanhos e cores, de forma a tornar-se mais atrativo e comercial. Esta variabilidade abrange também a composição das próprias pastilhas, o que faz com que, muitas vezes, os consumidores não saibam exatamente o que estão a tomar.

O Ecstasy atua mediante o aumento da produção e diminuição da reabsorção da serotonina, ao nível do cérebro. A serotonina parece afetar a disposição, o apetite e o sistema que regula a temperatura corporal. Não se conhecem usos terapêuticos para esta substância, embora tenha sido experimentada, antes da sua ilegalidade, em contextos de terapia de casal e psicoterapia pelos seus efeitos enteogênicos (paixão erótica e entusiasmo).

 

Origem

 

O MDMA foi descoberto antes das anfetaminas ou dos alucinógenos. Em 1912, os laboratórios alemães Merck isolaram acidentalmente o MDMA (MetileneDioxoMetaAnfetamina) e em 1914 patentearam-no como inibidor do apetite, o qual não chegou a ser comercializado. Só nos anos 50 é que, com fins experimentais, foi utilizado pela polícia em interrogatórios e em psicoterapia.

Nos anos 60 e 70 conseguiu grande popularidade entre os freqüentadores de discotecas, o que levou à sua proibição em 1985. Foi batizado com o nome de Ecstasy (XTC) pelos vendedores como uma manobra de marketing.

Na Europa, nos finais dos aos 80, o seu consumo aumentou, como se pode verificar, por exemplo, pelo número de pastilhas apreendidas pelas autoridades espanholas: 4.325 em 1989 e 645.000 em 1995. Este alargamento na Europa está também associado à queda do muro de Berlim e ao descontrolo político de alguns dos países do Leste europeu, onde a indústria farmacêutica está fortemente implantada. O Ecstasy foi inicialmente consumido em Ibiza e nos países do mediterrâneo, no contexto da noite e da música eletrônica. O consumo espalhou-se, mais tarde, até à Inglaterra e Holanda, onde surge a nova cultura da rave entre os jovens.

 

Efeitos

 

Os primeiros efeitos surgem após 20-70 minutos, alcançando a fase de estabilidade em 2 horas. Diz-se que o MDMA pode combinar os efeitos da cannabis (aumento da sensibilidade sensorial e auditiva), os das anfetaminas (excitação e agitação) e ainda com os do álcool (desinibição e sociabilidade). Para além disso, pode oferecer uma forte sensação de amor ao próximo, de vontade de contacto físico e sexual.

 

O Ecstasy pode provocar uma sensação de intimidade e de proximidade com outras pessoas, aumento da percepção de sensualidade, aumento da capacidade comunicativa, loquacidade, euforia, despreocupação, autoconfiança, expansão da perspectiva mental, incremento da consciência das emoções, diminuição da agressividade ou perda da noção de espaço.

A nível físico pode ocorrer trismo (contração dos músculos da mandíbula), taquicardia, aumento da pressão sanguínea, secura da boca, diminuição do apetite, dilatação das pupilas, dificuldade em caminhar, reflexos exaltados, vontade de urinar, tremores, transpiração, cãibras ou dores musculares.

Os efeitos desaparecem 4 a 6 horas após o consumo. Podem ocorrer algumas conseqüências residuais nas 40 horas posteriores ao consumo.

Riscos

 

A longo prazo o ecstasy pode provocar: cansaço, esgotamento, sonolência, deterioração da personalidade, depressão, ansiedade, ataques de pânico, má disposição, letargia, psicose, dificuldade de concentração, irritação ou insônia. Estas conseqüências podem ainda ser acompanhadas de: arritmias, morte súbita por colapso cardiovascular, acidente cérebro-vascular, hipertermia, hepatotoxicidade ou insuficiência renal aguda.

 O consumo de ecstasy e a atividade física intensa (várias horas a dançar) podem provocar desidratação e o aumento da temperatura corporal (pode chegar a 42º C), o que por sua vez pode levar hemorragia interna. A desidratação e a hipertermia têm sido causa de várias mortes em raves. A hipertermia pode ser reconhecida pelos seguintes sinais: parar de transpirar, desorientação, vertigens, dores de cabeça, fadiga, cãibras ou desmaio. Como forma de precaução, aconselha-se a ingestão de água. No entanto, a ingestão excessiva de água pode também ser perigosa (a intoxicação de água pode ser fatal).

8 - Álcool e Medicamentos

 

O uso de álcool juntamente com medicamentos, pode em muitos casos potencializar sua ação, pois usam a mesma via metabólica que estes. Por outro lado, o álcool pode suprimir a ação medicamentosa devido à competição deste com os fármacos. Um exemplo são os anestésicos que utilizam os mesmos receptores do álcool (gabaérgicos). Em uma pessoa alcoolizada, a dosagem de anestésicos é diferente se em comparação a abstinência, onde essa dosagem varia segundo o grau de alcoolização.

 A mistura álcool e tranqüilizantes gera depressão do sistema nervoso central e traz efeitos danosos na maioria dos casos. Alguns antidepressivos são sedativos. Se forem associados ao álcool, uma pessoa pode seriamente ficar sedada a ponto de ter risco de parada respiratória. Além disso, muitos antidepressivos são processados no fígado. O álcool danifica o fígado, assim, os níveis destes antidepressivos no corpo serão mais elevados em pessoas que bebem pesadamente. Isto pode conduzir a um aumento dos efeitos colaterais dos antidepressivos.

É importante notar que os efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos são grandemente alimentados pelo álcool; a mistura álcool + estas drogas pode levar uma pessoa ao estado de coma. Além desses efeitos principais os ansiolíticos dificultam os processos de aprendizagem e memória, o que é, evidentemente, bastante prejudicial para as pessoas que habitualmente utilizam-se de ansiolíticos associados as drogas(álcool e demais).

A ingestão crônica de álcool que causa mudanças bioquímicas e fisiológicas altera a ação dos medicamentos. As interações do álcool com medicamentos podem se dar:

- O álcool (etanol) estimula a secreção ácida, desnatura certos fármacos, retarda o esvaziamento gástrico e facilita a dissolução de substâncias lipossolúveis, causando, ocasionalmente, a absorção de substâncias que, em outras circunstâncias, não seriam absorvidas.

- Na presença de etanol no organismo o metabolismo de muitas drogas como benzodiazepínicos, barbitúricos, tetraciclinas, antidepressivos, hipoglicemiantes orais, etc. estão com o seu metabolismo diminuído, podendo exacerbar seus efeitos.

- Uma interação muito relevante é potencialização do efeito depressor do SNC do álcool por ansiolíticos, hipnóticos e sedativos. A depressão resultante desta interação é bem maior que a simples soma dos efeitos. Consistindo, com freqüência, grave ameaça à vida. Nessas circunstâncias, a morte pode advir por falência cardiovascular, depressão respiratória ou grave hipotermia.

         Exemplo de interação farmacodinâmica entre o etanol e barbitúricos que causam um aumento potencializado do efeito depressor do Sistema Nervoso Central.

         Concentrações sangüíneas de barbitúricos e álcool, associados à ocorrência de morte em vários grupos de pacientes com superdosagem.

Concentração média de barbitúrico no sangue (mg/l)

Morte por Barbitúrico apenas

3,67

Morte por Barbitúrico + Etanol

2,55

   

Concentração média de barbitúrico no sangue (mg/l)

Morte por Etanol apenas

6500

Morte por Barbitúrico + Etanol

1750

 

- O álcool pode interferir no tratamento da gota, uma vez que diminui a excreção do ácido úrico devido ao aumento de lactato (que compete pela secreção do ácido úrico)

- A vasodilatação produzida pela nitroglicerina é aumentada pelo etanol, podendo levar a hipotensão.

- O álcool diminui acentuadamente a capacidade motora e alerta em pacientes usando anti-histamínicos, anticonvulsivantes, anfetaminas e antidepressivos.

- Devido ao efeito hipoglicemiante do álcool, ele pode aumentar o risco de hipoglicemia grave em pacientes diabéticos, que fazem uso de hipoglicemiantes.

- Consumo excessivo de etanol interfere com a absorção de nutrientes essenciais, levando a deficiências minerais e vitamínicas.

- Ácido acetilsalicílico pode causar hemorragia gastrointestinal devido a seu efeito aditivo de irritação gástrica.

- Aceleração de biotransformação de fármacos, em decorrência da indução de enzimas hepáticas.

- Os consumidores crônicos de bebidas alcoólicas desenvolvem tolerância ao etanol e a outros fármacos (tolerância cruzada). Essa tolerância é devida, em parte, à adaptação do sistema nervos central (tolerância farmacodinâmica) e à indução enzimática (tolerância metabólica). Assim os alcoólatras, quando sóbrios, necessitam de doses maiores que os abstêmios para evidenciar efeitos farmacológicos de anticoagulantes, anticonvulsivantes, antidiabéticos, antimicrobianos e outros fármacos biotransformados pelo sistema oxidase de função mista. Tendo em vista que a tolerância persiste por vários dias ou mesmo semanas, após a interrupção do consumo abusivo do álcool, esses fármacos devem ser prescritos em doses maiores para pacientes em fase de recuperação do alcoolismo.

- Medicamentos e produtos que tem efeitos hepatotóxicos como Clorofórmio, Paracetamol, Isoniazida tem sua hepatotoxicidade aumentada pelo efeito aditivo do álcool.

 

9 - Tratamento da dependência do Álcool e Drogas

 

O tratamento da dependência deve iniciar por uma busca de ajuda profissional adequada. Primeiramente um médico ou um centro de tratamento especializado em dependência de substâncias psicoativas.

O ingresso voluntário amplia as chances de adesão e cumprimento das regras estabelecidas para o tratamento, Quando o paciente é pressionado ou forçado a aderir a um programa de tratamento, ou quando apresenta baixo nível motivacional, a probabilidade de êxito estará significativamente diminuída.

A etapa seguinte refere-se à desintoxicação pela suspensão do consumo da substância. Na fase inicial de privação, instala-se a Síndrome de Abstinência, principal fator predisponente de recaídas. A intervenção médica é de suma importância nesse estágio, pois, através da administração de medicamentos é possível minimizar os sintomas aversivos de síndrome. Durante os seis primeiros meses, a compulsão pode persistir, mas tende a diminuir (freqüência e intensidade). Após esse período ocorre extinção total da compulsão.

Deve-se elaborar um programa de prevenção de recaídas, com metas e objetivos claros, coerentes com as reais possibilidades do paciente. A combinação de psicoterapia comportamental e farmacoterapia aumentam a possibilidade de resultados satisfatórios no tratamento de dependência de substância psicoativa.

Farmacoterapia: consiste na utilização de medicamentos para alívio dos sintomas de abstinência e eventuais transtornos psiquiátricos associados ou preexistentes. Essa intervenção só pode ser realizada por médicos. A utilização de medicamentos sem prescrição ou acompanhamento médico é uma prática ilegal, fere o Código de Ética e poderá representar sérios riscos ao paciente.

Psicoterapia Individual: abordagem do problema complementar ao tratamento medicamentoso. Oferece suporte psicológico e estratégias para lidar com a compulsão no período de desintoxicação, bem como as formas de enfrentamento das situações de risco. Essa forma de intervenção só pode ser realizada por psicólogos ou psiquiatras, devidamente capacitados para tal propósito.

Terapia Familiar: indicada nos casos em que a família esteja comprometida com a historia do abuso ou com o tratamento. O processo em geral é breve e restrito à identificação das partes componentes do sistema terapêutico (paciente, familiares e instituição). Tem por objetivo minimizar os prejuízos afetivos decorrentes do abuso, possibilitando uma melhor convivência, quando a droga deixa de ser a principal ou única forma de aproximação entre pacientes e familiares. Deve ser realizada por psicoterapeutas habilitados.

Grupos de ajuda: um exemplo clássico desses grupos são os Alcoólicos Anônimos (AA), cujo método é essencialmente comportamentalista. O trabalho de recuperação é realizado por membros recuperados ou em fase de recuperação da dependência. É um recurso muito válido, desde que o paciente sinta-se à vontade nos grupos e consiga aderir ao programa.

10 - Prevenção da Recaída

 

A simples retirada da droga não representa um método suficientemente capaz de assegurar a manifestação da abstinência por longos períodos. Outros inúmeros fatores devem ser avaliados e tratados, com igual importância, num programa de prevenção de recaída. O paciente deve ser considerado em sua totalidade biopsicossócio-cultural.

A frustração vivida por familiares e pelo próprio paciente diante da recaída é resultante de expectativas irreais, isto é, da crença de que a dependência estaria definitivamente removida após o tratamento. Se houver uma consciência de que riscos de recaída são naturais, a família poderá assumir uma postura mais flexível, apoiadora e incentivadora, capaz de ajudar o paciente a não desistir de recuperar-se. Isso não significa ser conivente com comportamentos inadequados, mas ao contrário, implica na adoção de formas maleáveis para lidar com o problema.

A recaída pode ser precipitada por vários fatores:

Ausência de motivação: a recaída no início do tratamento pode ocorrer pela ausência de motivação – incertezas sobre a questão de interromper o abuso da substância. É preciso intensificar o trabalho de conscientização, avaliar as dúvidas e as crenças, numa tentativa de elevar o nível motivacional do paciente.

Falta de habilidades: a maioria das pessoas não dispõe de habilidades para lidar com pressões sociais, estresse, problemas interpessoais ou conflitos psíquicos. A falta de respostas adequadas para enfrentar esses tipos de situações, pode precipitar a recaída, por ser o abuso a única maneira que o individuo conhece para afastar ou remover temporariamente tais adversidades. Nesse caso, o trabalho deve ser psicoterapia comportamental – programa de aprendizagem e treino de comportamentos que favoreçam a manutenção de abstinência.

Substituição compensatória: após um período incômodo de 6 ou 12 meses de abstinência, alguns pacientes ainda não conseguiram substituir satisfatoriamente a falta de droga. Não raro, acreditam que serão capazes de resgatar o controle sobre o uso e o que ocorre, invariavelmente, é a recaída. Nesses casos, é preciso traçar um plano individual, com objetivos claros, de acordo com os interesses, condições e motivação do paciente para compensar a falta da droga.

Transtornos do humor: é comum durante o tratamento, a ocorrência de transtornos do humor como depressão, ansiedade, irritabilidade, agressividade, entre outros, que superam as condições de abstinência. A busca da droga nesses casos, significa um alívio imediato para o mal-estar. Um trabalho psiquiátrico ou psicológico adequado é fundamental para manter a estabilidade emocional e motivar a abstinência.

Estresse, solidão e tristeza x felicidade, alegria ou euforia: qualquer situação ou evento que implicar em conseqüências aversivas, estressantes, euforizantes ou em satisfação e alegria, poderá desencadear um forte desejo de consumo da droga, muitas vezes incontrolável. O conhecimento prévio de que o consumo da droga proporcionará uma alteração no estado de consciência, poderá ser interpretado como uma forma de afastar temporariamente o estresse ou ampliar o prazer, provocando assim, a recaída. Nesses casos, fazer críticas do tipo: “Tudo é motivo para usar” ou “É falta de vergonha”, não ajudarão em nada e ainda contribuirão para piorar o constrangimento e sentimento de fracasso do paciente. A melhor alternativa consiste em encorajar o paciente e retomar o tratamento e desculpar a si próprio pelo lapso. Aprender com erros, significa não voltar a cometê-los no futuro.

Situações de risco: são todas as situações ou estímulos ambientais que representam riscos de recaída. Esta questão deve ser prevista e trabalhada com o paciente desde o início do tratamento. O trabalho consiste em treiná-lo para tornar-se analista de seu próprio comportamento, isto é, sempre que estiver exposto à situação em que sentir-se tentado ou pressionado a abandonar a abstinência, o paciente deverá questionar-se sobre os riscos potenciais, reavaliar as experiências passadas e encontrar uma resposta adequada. Por exemplo, se houver disponibilidade da droga e o paciente sentir que não irá resistir, é melhor retira-se da situação e procurar um ambiente seguro. Se ocorrer-lhe a idéia de busca da droga, deverá procurar pessoas ou atividades que contribuam para dissipar tais idéias.

 

Bibliografia Consultada

Amen;D. G. Transforme seu Cérebro, Transforme sua Vida. São Paulo: Mercúryio, 2000.

Bottomore, Toni. Dicionário do Pensamento Marxista, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1983.

Graedd, F.G; Guimarães, F.S. Fundamentos de Psicofarmacologia. São Paulo: Atheneu, 2001.

Pliszka, S. R. Neurociências para o Clínico de Saúde Mental. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Sites Consultados

www.psicosite.com.br

https://images.google.com.br/images

www.brainplace.com/

https://www.cerebromente.org.br/

https://www.brasilescola.com/drogas/

https://pt.wikipedia.org/wiki/

  Dra. Rita de Cássia da Silva

  Psicóloga – CRP – 06/5l200-3

  E-mail: ass.espacocrianca@yahoo.com.br

  E-mail: consultpsico@terra.com.br

  Site: www.espacocrianca.webnode.com 

  Brodowski – SP